MÉDICO PSIQUIATRA E PSICOTERAPEUTA

Dependência química

abuso de susbtâncias psicoativas

Recebo muitos pacientes e familiares em meu consultório, ou mesmo em primeiras internações, com quase nenhuma informação sobre dependência de drogas. O mais comum são as famílias identificarem apenas como um usuário que está trazendo problemas, em discordância com o paciente que “tem o controle do uso”. Quem é dependente? Como se caracteriza? Porque? Como? Erroneamente passaram muito tempo supondo que havia um desvio de personalidade ou da força de vontade em parar de usar drogas.

Na verdade, a dependência química é uma doença complexa, com alterações cerebrais provocadas pelas substâncias. É muito comum sofrerem interferência de outras patologias psiquiátricas simultâneas, como depressão, bipolaridade, TDHA, que também devem ser identificadas e tratadas. Todas estas alterações cerebrais levam a alterações comportamentais, ocorrendo mesmo quando não estão sob efeito agudo da droga. Portanto, temos que ter um olhar amplo: neuroquímico, comportamental, individual e familiar. Saber que precisaremos mais do que força de vontade para tratar todos estes componentes e começar a prevenção.

O transtorno por uso de susbtâncias psicoativas (TUSP) - seja por álcool, nicotina, remédios, drogas – refere-se ao uso que causa prejuízo clínico ou funcional, como problemas de saúde, incapacidades ou falha nas maiores responsabilidades como trabalho, escola, casa. Pode ser leve moderada ou grave, conforme a severidade dos problemas

A dependência química (DQ) ou adição refere-se a um estágio grave e crônico, caracterizada pela busca da substância(s) psicoativa(s) de preferência, com uso compulsivo ou difícil de controlar, apesar de obstáculo ou consequência danosa, mesmo havendo o desejo de parar de consumir a droga. Há uma perda progressiva do auto-controle para resistir a vontade do uso, as vezes muito forte (como a fissura), mesmo após anos sem  uso. Esta memória química está ligada as alterações cerebrais persistentes.

Quando uma pessoa usa droga, afeta o seu circuito de recompensa cerebral (ou “centro do prazer”). Este é o mesmo sistema que controla funções básicas de sobrevivência e perpetuação da espécie, como o prazer e a motivação por alimentar-se ou ter relações sexuais. A super estimulação causa dessensibilização e progressivo desinteresse por prazeres básicos. Com isso, percebemos que progressivamente o uso da droga está ligado não mais a busca do prazer, mas a um alívio do desprazer que a sua falta acarreta. Assim ocorre o aumento da necessidade de estímulos cada vez mais frequentes e intensos, em um verdadeiro CICLO VICIOSO.

Circuito de Recompensa destacado em rosa.

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O uso continuado da droga pode causar alterações em outras sistemas e circuitos cerebrais, como por exemplo as funções de leitura, juízo crítico, tomada de decisões, memória e comportamento.

A velocidade do desenvolvimento da DQ depende de muitos fatores. Do ponto de vista individual, fatores de risco genéticos tem um peso muito alto, assim como existência de outras doenças psiquiátricas (antecedentes ou precipitadas pelo uso). Precocidade dos primeiros usos, frequência de uso e da potência da droga usada são determinantes. Especialmente quanto mais jovens, maior o risco, sabendo que o cérebro ainda está em desenvolvimento até os 23 anos! 

O tratamento visa a estabilização, melhorando as condições e adaptações para uma vida plena e produtiva. Ou seja, o objetivo é uma vida normal, com alguns cuidados. O paciente em recuperação se mantém atento aos sinais de retorno ao padrão comportamental de “ativa”, relacionado ao período de uso de drogas. Assim, é possível prevenir recaídas de uso. Pesquisas mostram que a combinação de medicações, psicoterapia e grupos de auto ajuda  (e.g. Alcóolicos anônimos - AA) aumentam a chance de entrar em recuperação. Mas o tipo de tratamento deve ser individualizado para cada paciente.

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