Cerca de 5 % das crianças apresentam TDAH. E em torno da metade continuarão tendo este diagnóstico quando adultos. No entanto, ao longo da vida, as características que definem o diagnóstico na criança vão mudando. Acrescentando que estas características são "silenciosas e indolores" no sentindo que apenas suas consequências geram desconforto, a maioria das pessoas não são adequadamente avaliadas, diagnosticadas e muito menos tratadas.
Devemos suspeitar de TDAH se disfunções em basicamente quatro áreas distintas:
1- Déficit de Atenção - dificuldade em concentrar-se em uma tarefa até o final, iniciando diversas atividades ou pensamentos ao mesmo tempo e perdendo o foco, trazendo problemas de lembrar; esquecimento de obrigações ou objetos; evitação de tarefas que precisam esforço mental continuado. O TDAH não pode ser visto como um problema básico de atenção, mas uma alteração no conjunto de funções mentais e cognitivas.
2- Hiperatividade - tendência a estar se movimentando, mexendo partes do corpo, falando muito. No adulto, a hiperatividade verbal ou motora tende a reduzir muito, mas pode tornar-se uma "inquietação mental' que facilmente é confundida com ansiedade.
3- Disfunção Executiva - habilidades que facilitam ter resultados favoráveis na resolução de problemas. A disfunção executiva é a principal característica do TDAH no adulto. Ou seja, há uma disfunção nas habilidades mentais que ajudam a estabelecer metas, planejar, antecipar situações, controle e percepção do tempo para realizar as tarefas, conclusão de compromissos, regulação de comportamentos e condutas. Além disso, destaca-se dificuldades consideráveis no sistema de recompensa (dificuldades em sentir prazer ou necessidade de prazeres intensos) e de motivação para engajar-se em tarefas e planos.
4- Impulsividade e Desregulação Emocional - não conseguir esperar, falar antes do outro terminar, colocar-se em situação de risco sem pensar, intolerância a frustração, dificuldade em inibir um comportamento prazeroso, compulsividade e predisposição ao abuso de drogas, etc.
O diagnóstico é feito pelo médico em entrevista com o paciente, muitas vezes com familiares também, tendo em vista que os prejuízos e características devem ter início antes dos 12 anos. Nenhum outro exame é necessário para fazer o diagnóstico (sangue, psicotestagem, avaliação psicopedagógica, ressonância magnética, etc). Quando feitos, servem para ajudar a afastar a possibilidade de outras patologias suspeitas.
A avaliação pode ser dificultada pois cerca de 2/3 dos pacientes adultos tem outros transtornos psiquiátricos, principalmente ansiedade, depressão ou abuso de substâncias.
O impacto do não tratamento é alto. Apesar de parecer pouco grave no dia-a-dia e não "exigir" imediata procura por tratamento, tem a capacidade de mudar o curso de uma vida. No mínimo, se não tratada, causará turbulências desnecessárias. Os problemas são sentidos de forma indireta em um amplo espectro de consequências práticas. Desde a criança que inicia um "espiral negativa" e auto-encadeada no prejuízo de aprendizado, estigma, rejeição, fracassos, baixa auto-estima, predisposição a acidentes, uso de drogas, tendência a obesidade, habilidades sociais reduzidas, problemas nos relacionamentos, criminalidade, envolvimento em acidentes, desregulação emocional, progressão acadêmica limitada, funcionalidade no emprego prejudicada, etc..
Quanto antes inciar o tratamento, menor o prejuízo acumulado! Felizmente a maioria dos pacientes tratados (até 70%!) tem boa resposta ao tratamento. A medicação demora poucos dias para fazer efeito. É imprescindível explicar para o paciente e familiares o que está sendo tratado (psicoeducação), tanto para reforçar a adesão, quanto para reduzir a visão de que o paciente é "preguiçoso, malandro, limitado ou tem desvio de caráter". A combinação de psicoterapia e fármacos aumentam a efetividade do tratamento.
Dr Pedro Jakobson
Médico Psiquiatra
Porto Alegre - RS