O transtorno de personalidade (TP) borderline também é conhecido como TP com instabilidade emocional, por esta ser sua maior característica. Este é um diagnóstico realizado em cerca de 3% da população ao longo da vida, homens igualmente a mulheres, com decrescente prevalência conforme a idade: 6% com 15 anos, 4.2% aos 20 anos e 0,6% aos 40 anos.
Personalidade pode-se dizer que é o conjunto de características pessoais que cada um de nós tem. É a forma de nos relacionarmos, de lidar com os problemas, de fazer escolhas, de interpretar a realidade e viver. Alguns tem traços mais marcantes, mas não são suficientes para caracterizar distúrbio. É importante identificar se as características da pessoa que estamos avaliando são de fato antigas ou se estão relacionadas a algumas situação eventual. Ainda, se não há interferência do uso de substâncias psicoativas ou de algum transtorno psiquiátrico de base, como depressão e bipolaridade.
As caracterizações do TP borderline em pesquisas pela Internet assustam muitos pacientes! De fato, podem existir casos bastante disfuncionais. No entanto, o mais comum no consultório é encontrarmos pessoas com traços atenuados deste transtorno, ou seja, nem teriam o diagnóstico de fato (mas já foram "rotuladas" equivocadamente no passado). Na minha opinião, tendo em vista a grande variação de sintomas e intensidades que podemos perceber, mas que estão todos agrupados com “borders”, é muito mais importante ajudar o paciente identificar quais são as SUAS dificuldades específicas e qual o tratamento mais específico para ELE do que ficar em cima de um “rótulo”.
As causas são genéticas. No entanto, há forte impacto na manifestação dos sintomas quando associadas a vivências de eventos adversos na infância (físicos, sexuais, morais, negligenciais). Sabe-se que nestes pacientes há alterações tanto na estrutura quanto no metabolismo cerebral. Algumas deficiências em receptores opióides e canabinóides em regiões cerebrais específicas já foram identificadas.
Estas alterações trazem uma hipersensibilidade as rejeições sociais e amplificação dos sentimentos experimentados. Tudo se desenrola a partir disto: instabilidade das emoções, baixa auto-estima, distúrbio de identidade, ideação suicida, uso de drogas, prejuízo da interação social, alteração da percepção da dor, nível continuo de tensão (inclusive com aumento de cortisol plasmático, o que as diferencia de bipolares).
Além disto, as descobertas neuroquímicas recentes são uma luz que se abre no seu tratamento farmacológico. A identificação de fatores psicológicos, ambientais e sociais também são importantes na identificação de focos de tratamento psicoterápico.
As principais características do TP borderline estão listadas abaixo:
- Sentimentos negativos exagerados: medo, vergonha, pânico e raiva;
- Sensação de vazio crônico e de sentimentos de rejeição constante;
- Interpretações instáveis sobre os outros: boa pessoa em um instante e rapidamente julgando como má pessoa;
- Medo de ser abandonado pelas pessoas mais próximas, ameaças e tentativas apelativas no caso potencial de ser abandonado, inclusive tentativa de suicido;
- Baixa auto-estima, considerando-se inferior aos outros;
- Insegurança em si próprio e nos outros, dificuldade em aceitar críticas, sobrevalorizando de situações.
- Instabilidade de relações que mantém, variando entre intimidade e distanciamento, amor e ódio; relacionamentos intensos, porém confusos e desorganizados;
- Instabilidade reativa das emoções, reação desproporcional podendo chorar facilmente ou ter momentos de enorme euforia;
- Comportamentos compulsivos e de dependência, como por jogos, gasto de dinheiro descontrolado, consumo exagerado de comida ou de drogas;
- Comportamentos impulsivos e perigosos, como relação sexual desprotegido e/ou promíscua e abuso de drogas;
- Autoagressão, como escoriações superficiais em busca de alívio dos sentimentos negativos.
Dr. Pedro Jakobson
Médico Psiquiatra
Porto Alegre -RS